Como compreender e sobreviver às birras da nossa criança de até três anos de idade?
- Psicóloga Jane Brito Lopes

- 29 de ago. de 2021
- 5 min de leitura

Como compreender e sobreviver às birras da nossa criança de até três anos de idade?
No mundo de uma criança de zero a três anos, ocorrerão sempre muitas descobertas a cada instante. Nesta etapa, nosso filho(a) tem o hemisfério cerebral direito dominante. Isto representa que elas estão funcionando muito mais no emocional e no modo impulsivo, em relação as decisões que eles(as) tomam, conforme a interpretação que fazem de suas experiências de vida. Apesar de as características genéticas atuarem na nossa criança, volto a ressaltar o quanto o entorno familiar e, também, as interações que ele(a) recebe, a qualidade do afeto e da atenção e o atendimento às suas necessidades básicas e emocionais representam um diferencial significativo na qualidade de conexão que esta criança terá conosco.
Podemos, pois, afirmar, que o nosso filho precisa da nossa responsabilidade e afetividade, presente em sua vida, de forma que, ele não precise expressar um mau comportamento, ou seja uma birra ou uma reação disfuncional, para conseguir a nossa atenção e envolvimento. Quando isto chegar a acontecer, dentro de um núcleo familiar, é como um alerta, ou um pedido de socorro, de uma criança, para receber atenção, conexão, tempo de compartilhamento e direcionamento.
Haverá momentos de birra, de gritos , de estarem chateados com alguma coisa ou de desejarem conseguir um determinado objetivo, que pode não seja viável para nós. Nesta
situação, é importante, também, acolher e ouvir a nossa criança, sempre numa terminologia compreensível a ela, nomeando as emoções que envolvem a situação. Se não for possível, podemos deixar claro que “sem gritos, nós poderemos conversar!” ou, apenas, avisar que vamos silenciar e aguardar passar este momento de chilique ou descontrole. Mas, atenção, não se negocia com uma criança alterada, e, nós pais, profissionais da saúde e da educação, temos de ter clareza a este respeito. Agindo desta forma nós aumentamos a probabilidade de este comportamento de birra voltar a acontecer. Além disso, estaremos ajudando a nossa criança a aprender formas de nos controlar e/ou nos manipular. As crianças irão nos testar para ver até onde elas podem ir, isto é certo. Portanto se faz necessário que, o pai ou a mãe ou outro cuidador responsável estejam conscientes do que é efetivamente importante para esta criança, em termos de desenvolvimento emocional e mental, valores éticos. Deve haver sintonia e uniformidade em relação às regras definidas para esta criança, lembrando sempre de equilibra-las com a afetividade.
Muitos autores trazem que as crianças “aprontam” não necessariamente para chamar à atenção, mas, sim, para buscarem uma conexão segura e protegida conosco, seus pais. E, se o seu filho sentir que está conectado de maneira segura com você, o seu mau comportamento vai tender a diminuir. De certa forma podemos compreender que , este mau comportamento funciona para que esta criança recupere a atenção e o envolvimento de seus pais, mesmo que, a atenção recebida seja negativa. Podemos, portanto afirmar que, quanto maior a conexão, maior a redução dos maus comportamentos.
Outro detalhe é que, em momentos de birra de crianças de até três anos de idade, não adianta perder tempo com sermões, pois, com o seu cérebro inundado de emoções, esta criança não está em condições de pensar. Podemos lhes dizer: “Preciso que você se acalme, para podermos conversar” e, a seguir, apenas, silencie, olhando com tranquilidade para sua criança (se precisar conte até dez internamente e respire com tranquilidade). Você pode, também, lhe oferecer um travesseirinho macio, para que ela ou ele se sinta mais confortável.” E, assim, dê sequência a este movimento de tentar se manter tranquila(o) e continente às necessidades de seu filho(a), para poder estar apta(o) a validar as emoções, logo que ele(a) possa se acalmar.
Nelsen, Cheeryl & Duffy (2015), autores de livros voltados a uma disciplina positiva, trazem algumas sugestões a nós, pais, cuidadores e profissionais da saúde e da educação, para sobrevivermos a uma birra e ainda ajudarmos as nossas crianças. A primeira sugestão é para que nós, adultos, tenhamos sucesso em sobreviver a uma birra. E como podemos fazer isso?
- Nos acalmando e não nos misturando com a desorganização emocional das nossas crianças. A desorganização é deles, não é nossa, podemos, sim, olhar para ela, como se estivéssemos olhando para uma tela de TV, sem nos misturarmos emocionalmente ao descontrole de nossos filhos. Podemos respirar profundamente , contar até dez ou utilizar outro recurso funcional para regular e neutralizar um possível descontrole nosso. Assim estaremos aptos a nos conectarmos e sermos mais efetivos com nossa criança, mostrando firmeza e gentileza, ao mesmo tempo que a acolhemos e a ouvimos, quando ela estiver mais calma.
A seguir, é importante que, caso a birra tenha acontecido num local público, podemos procurar um lugar mais seguro e/ou reservado, lembrando de não utilizar gritos ou sermão.
Afaste o seu filho de algum objeto que possa ser usado por ele ou ela, para atirar, se machucar ou danificar. Resista ao impulso de tentar consertar esta birra oferecendo recompensas ou entregando ao seu filho(a) o objeto gerador da birra. Desta forma, o que o seu filho(a) vai aprender é que a birra é o recurso ideal para que ele ou ela consiga o que deseja. Isto não vai nos ajudar! Vocês concordam?
Bom, aqui é importante reprisar que, no momento em que cedemos a uma birra, aumentamos a possibilidade de birras futuras, pois nosso filho(a) aprende que, em algum momento, não iremos aguentar e vamos ceder. Então, mantenha-se calmo(a) e firme, pois as birras são normais. Peça a todos os cuidadores envolvidos com a criança que mantenham esta linha de conduta. Compreenda, portanto que a nossa criança irá nos testar, porque isso faz parte do comportamento normal de uma criança pequena e, também, nesta fase de vida, ela ainda não sabe controlar totalmente as suas emoções.
Quando observarmos que a birra está passando, podemos lhe oferecer um entorno calmo, para que a nossa criança recupere o seu fôlego e estabilize suas emoções. Converse com calma com seu filho(a), dentro de uma linguagem compatível a sua capacidade de compreensão, falando sobre o que aconteceu e o que é esperado naquele momento. Assegure que, apesar de seu comportamento não ter sido apropriado, você o ama muito. Tente se reconectar com a sua criança, e isso pode ser com um abraço bem gostoso, daqueles que vão de 15 a 20 segundos. Nossa criança vai se sentir melhor com este aconchego.
Agora que a nossa criança se acalmou, é o momento de fazer as reparações: As coisas arremessadas devem ser recolhidas, os papéis rasgados devem ser, também, recolhidos e jogados fora, as almofadas colocadas de volta no sofá. Neste momento seja, ao mesmo tempo, firme e afetivo. Nós podemos oferecer a nossa ajuda ao nosso filho(a) para estas tarefas. Aqui é importante que você esteja atento ao estágio de desenvolvimento da sua criança, para ensiná-la a fazer o que é certo, tendo o cuidado para não solicitar algo que seja além da sua capacidade.
Outro passo importante, para nós adultos, após a birra ter passado, é tentar identificar o que causou esta explosão emocional na nossa criança. Alguns fatores, como, a falta da soneca regular; fome, por terem perdido uma refeição; estarem em um ambiente que não lhe seja familiar ou estarem em contato com pessoas ou ambientes estressados. Se respeitarmos o funcionamento, o temperamento e o ritmo diário de nosso filho(a), poderemos evitar muitos momentos de explosões emocionais e de birras.
Para finalizar, volto a recomendar que se oportunizem ter um tempo dentro da sua agenda diária, voltado totalmente para o seu bebê, para estreitar esta conexão entre vocês. Mas, lembrem-se de que ceder a todas as exigências da nossa criança, superprotegê-la, “mimá-la” excessivamente pode vir a prejudicar o aprendizado de autonomia e independência, para seus enfrentamentos futuros. E, isto é essencial para um desenvolvimento saudável.
Então, experimentem equilibrar a firmeza e a afetividade. Seu bebê, sua criança de até 3 anos de idade vão agradecer!
Obrigada pela atenção!
Psicóloga Jane Brito Lopes - CRP 07/19003






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