A importância do modelo dos pais nas “crenças” internas das nossas crianças
- Psicóloga Jane Brito Lopes

- 12 de mai. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de ago. de 2021
Desde o nosso nascimento temos, inicialmente, a influência genética do nossos pais. A seguir, vem a influência do meio onde estamos inseridos, somada à forma como processamos as nossas experiencias de vida. O modelo apresentado por nossos cuidadores, normalmente nosso pai e nossa mãe, tem uma repercussão muito forte na criança. E, assim, ela pode ter uma compreensão de que esta é a forma certa e incontestável de agir, sentir, pensar, independentemente de ser ou não aceitável dentro de uma sociedade.
A partir daí, esta nossa criança constrói uma percepção sobre si, as pessoas à sua volta e o mundo em geral, como sendo uma verdade absoluta, a ser aceita. Nosso filho(a), portanto, pode agregar, à sua forma de funcionar nas situações ou ativações de sua vida diária, modos saudáveis de enfrentamento e de percepção pessoal ou pode, em decorrência de suas experiencias de vida aversivas, entrar num processo de ativação e de percepção negativa, generalizada e rígida. Pesquisas trazem que, no final da adolescência estas crenças internas passam a ser internalizadas como certas, influenciando, conforme o caso, o modo de este adulto processar suas experiencias pessoas. Estas crenças podem ser de:
1. Desamparo:
2. Desamor
3. desvalorização
No caso da crença de desamparo, há uma grande possibilidade de esta criança não ter internalizado uma sensação de apego seguro em relação aos seus cuidadores. Esta situação é melhor explicada pela Teoria do Apego infantil, de Bowlby, onde ele traz a necessidade de a criança internalizar a figura protetiva de seus cuidadores primários, normalmente a mãe e/ou o pai, para, assim desenvolver uma boa autoestima e sentir-se segura no enfrentamento do mundo à sua volta e/ou em situações onde seus pais não estejam presentes.
Quando isto não ocorre, esta criança desenvolve um apego, chamado de inseguro, muitas vezes, por estes pais serem ausentes emocionalmente para esta criança, sem lhe dar a devida importância em relação às suas necessidades básicas e/ou, também, por eles terem uma desregulação emocional acentuada e/ou serem tanto a figura de proteção e cuidado a esta criança, como, também, serem, ao mesmo tempo, os responsáveis pelos seus medos, pavor, ansiedade e insegurança.
Retomando à crença de desamparo, quando uma criança se sente vulnerável, sem possibilidades de se proteger, percebendo-se, também, como passível a maus-tratos de outras pessoas, ela passa a ter uma visão de inferioridade e fracasso sobre si. Muitas delas, internalizam como certa esta condição de serem descartadas, abandonadas. Na vida adulta, por conhecerem como “ambiente familiar” este estado de rechaço e desamparo, terão, em muitas situações, a possibilidade de procurarem parceiros que deem continuidade a única forma de vida que eles conhecem como sendo um relacionamento interpessoal, que, de certa forma, é com a manutenção da sua crença interna de desamparo.
No caso das crenças de desamor, essa criança nunca se sente boa o suficiente para receber o amor e afeto de seus pais ou cuidadores. Passa, portanto, a se sentir indesejável, indigna de receber amor, diferente, feia, defeituosa, imperfeita, portanto, relegada à própria sorte. Sempre trazemos aos pais a importância de darem regras firmes, para que esta criança, que inicia sua vida, explorando tudo de novo à sua volta, possa sentir-se segura nestas descobertas, ao mesmo tempo que, expressam a afetividade necessária ao crescimento saudável de uma criança. É direito de toda criança internalizar esta sensação de ser amada, valorizada e protegida em suas investidas e interações diárias.
Quando ocorre crenças de desvalorização, ocorre a sensação de se ver como alguém sem valor, descartável, um lixo, mau, derrotado e não merecedor da sua própria existência ou atenção. São muitas vezes situações, onde um pai ou uma mãe repete, quase que o tempo todo, que seu filho é “um burro” e faz, esta criança se sentir como um lixo humano. E, esta criança pode levar esta crença por toda a sua vida e, em situações onde tenha de mostrar sua competência, ela possa vir a ter ações que confirmem que efetivamente ela é um fracasso.
Todas estas crenças internas disfuncionais não deveriam existir na história de vida das nossas crianças. Algumas delas, podem vir a desenvolver estratégias de enfrentamento diversas, como: isolamento social, autos sacrifício, busca de aprovação e/ou tentativas de ser perfeito(a), para quem sabe, ser merecedor(a) do amor, proteção e cuidado que tanto gostariam de receber de seus pais.
Quando trazemos a importância do entorno familiar, reorganização emocional e posicionamento firme e afetivo por parte de um pai e uma mãe, é porque, em nossos consultórios surgem muitos adultos com feridas emocionais internalizadas, que lhes dificultam os processos interativos e os enfrentamentos no âmbito familiar, profissional e social.
É preciso, pois, sentir que o nosso bebê pode mudar a tranquilidade que a nossa vida casal nos trazia, mas, ao mesmo tempo, vai nos fazer sermos ativos e participativos nesta jornada de estar com eles. Eles são alguém que muito amamos, e, é por isso, que será importante nos mantermos como modelos saudáveis de funcionamento social, através da manutenção da firmeza e afetividade nas nossas ações e reações. Recomendo sempre que os pais criem um momento certo, em horário pré-definido, para sentarem com suas crianças e serem simplesmente plenos com ela, interagindo e brincando. Assim, quando nosso bebê, nossa criança crescer, eles terão a sensação de que sempre tivemos um espaço certo na nossa agenda diária, para eles. Além disso, se sentirão efetivamente importante para receberem a nossa atenção, amor e compartilhamento. Eu só tenho a dizer: “Amem seus filhos, enquanto há tempo! Mas, não esqueçam da firmeza que pode leva-los a serem uma geração com valores e responsabilidade”.
Psicóloga Jane Brito Lopes - CRP 07/19003







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